Tela de ilusões
Emanuela Souza
Fotos: Emanuela Souza
A infância vem sofrendo transições dos anos 90 para cá. Crescer ver se tornando cada vez mais banal nos últimos anos. O crescimento da tecnologia causou certo afastamento dos pais no desenvolvimento das crianças,e agora tudo que elas aprendem e precisam saber, está frente à tela de um smarthphone.
É estranho visitar um lugar que você viveu grande parte da vida, e perceber que ele não é mais o mesmo de antes. Recentemente visitei minha antiga escola do ensino fundamental e o choque foi um tanto emocional. Os parques não estavam mais lá, nem a antiga horta onde as cozinheiras cultivavam pequenas ervas. Mas o que mais me chocou foi o comportamento das crianças da nova geração. E pensar que eu era o tipo de criança “diaba” que não parava quieta um minutos sequer. Não consegui me enxergar ali há dez anos atrás; vi um amontoado de crianças que pareciam adolescentes, apontando para os garotos que gostavam, com maquiagens no rosto, encostados em qualquer canto sem fazer nada. O que houve com essa geração? Por que crianças estão cada vez mais parecidas com adultos?
Fui àquele local tão querido esperando fotografar a minha infância, e não havia nada além de decepção. Por sorte, algumas das minhas antigas professoras ainda estavam lá, e tive a maravilhosa oportunidade de conversar com algumas delas. Fiquei feliz em saber que compartilhavam do mesmo pensamento que eu. Se para mim uma adulta de vinte um anos foi um choque, imagino para elas, mulheres de quarenta e cinqüenta anos, que vivenciaram toda aquela mudança, e nada poderiam fazer para parar aquilo.
Arrisco dizer que a “preguiça” da nova geração de pais e mães para criar os filhos, ajudou a tornar essa situação cada vez mais grave. É muito mais fácil fazer seu filho parar de chorar, presenteando-lhe com um celular de última geração que vai deixá-lo calado, do que levá-lo à praça para andar de bicicleta ou jogar bola — se bem que ver uma criança fazendo qualquer coisa que não seja futicar no celular é uma raridade hoje em dia —. E pensar que anos atrás, minha maior felicidade frente à um computador era brincar com os jogos educativos da escola. Claro, nossa sociedade vive uma crise de relações, mas não imaginava que isso chegaria às crianças de forma tão grotesca.
De maneira geral, todos estamos hipnotizados pela magia tecnologia que está nos rodeando. Estamos conectados a todo tempo e qualquer acontecimento trivial em nosso cotidiano é motivo para compartilhar com amigos nas redes. Essa febre tem afetado cada vez mais crianças, que antes mesmo de aprenderem a andar ou a falar, já sabem como enviar uma foto pelo snapchat. É estranho pensar — e até irônico — que hoje em dia, as crianças trocam um quebra-cabeças que vem na caixa, por um quebra-cabeças digital em um tablet.
Antes mesmo dos sete anos, uma criança já possui todo o material digital que um adulto precisa no mínimo para trabalhar. Brincadeiras de rua e de bola se perdem com o tempo, pois a vida só se torna divertida quando você possui wifi para fazer check-in a cada cinco minutos. É preocupante pensar que daqui há alguns anos talvez, as crianças não saibam o que é jogar peteca, queimada, mamãe da rua ou a famigerada — nem tanto hoje em dia— roda de ciranda. Estamos fadados a resumir nossas vidas na pequena tela de um tablet ou de um celular?