Tradição e memória dos Tropeiros é tema de ação cultural produzida na UEMG Divinópolis
Luana Natacha
Fotografias da página: Angélica Oliveira
Em algum momento da sua vida, você já deve ter ouvido falar no termo “tropeirismo” e já deve ter associado ao prato típico da culinária mineira, paulista, goiana, composto pelo feijão tropeiro, bacon, entre outros ingredientes. Não é errada tal associação, mas o tropeirismo, primeiramente, remete a um meio de transporte feito a cavalo, em tropas, ou em lombos de burros, que foi utilizado para atividade comercial, como venda e troca de mercadorias, bem comum nas regiões Centro-Sul e Sudeste do país.
Esse meio de transporte era bastante comum no período colonial e os homens que guiavam os animais eram chamados de tropeiros, palavra que deriva de tropas. Daí, surge essa expressão que remete também à comida feita por eles, durante as paradas, nos pousos, nos momentos de descanso das longas viagens que poderiam durar até mais de um mês.
Com o passar do tempo, os meios de transporte a cavalo foram substituídos pelo veículo motorizado e o tropeirismo deixou de ser tão evidente. Mas, ainda hoje, está representado em regiões montanhosas e de difícil acesso. Por onde passou, o tropeirismo ganhou novas expressões, até chegar ao que hoje conhecimentos como a “queima do alho”, evento que é grande responsável pelo surgimento dos rodeios e festas agropecuárias.
Considerando a importância do tropeirismo na formação cultural, um grupo de alunos do 3º período de Jornalismo da UEMG – Divinópolis propôs o tema como trabalho final na conclusão da disciplina de Comunicação e Cultura, orientada pelo professor Gilson Raslan.
A ação cultural movimentou os estudantes da universidade e buscou levá-los a uma reflexão crítica. Para isso, produziu várias ações: exposição fotográfica, vídeo-documentário e mini-cozinha tropeira, com direito à caracterização e moda de viola. Para a apresentação dessa mini-cozinha, eles contaram com a participação de uma comitiva intitulada “Mágoa de boiadeiro”, de Divinópolis, composta por pai e filho, Antônio Carlos e André, respectivamente.
A Comitiva Mágoa de Boiadeiro é de grande representatividade no que diz respeito à queima do alho, grande atrativo das festas agropecuárias. Sua forma singular e expressiva de preparar o “tropeiro”, principal comida dos encontros de cavaleiros, lhe rendeu diversos prêmios, como na Divinaexpo, que é o terceiro maior rodeio do Brasil, como também convites para participar de diversos eventos em localidades mineiras, tais como Piumhi, Sete Lagoas, Arcos, Lagoa da Prata, São Sebastião do Oeste, Itaúna, Carmo do Cajuru, em Minas Gerais, e, também, em cidades de São Paulo, como Barretos, que possui o maior rodeio do Brasil.
Segundo Antônio Carlos, comissário, “a Comitiva Mágoa de Boiadeiro nasceu em 2012 a título de curiosidade, por querer conhecer o que era a queima do alho. Mas, o que era apenas por saber, foi tomando gosto e já são cinco anos mostrando essa atração em diversos lugares”, observa.
Ele também explica que o significado da queima do alho está numa brincadeira. “Brincadeira com o sabor da comida tropeira, composta pelos seguintes ingredientes: arroz tropeiro - arroz e carne de sol -, feijão gordo - feijão, bacon, linguiça e carne-, carne na chapa -disco de arado-, e o tradicional feijão tropeiro sem o ovo - feijão, bacon, linguiça e farinha”. Antônio Carlos também explica que por onde eles vão, levam consigo uma cozinha, com produtos diferenciados e típicos da época, todos carregados na broaca, que é uma espécie de mala utilizada na época dos tropeiros, reforçando também que, na queima do alho, não se pode utilizar vasilhas de plásticos e panela de pressão. Toda a preparação do ambiente e da comida é feito no improviso, retratando também como os cavaleiros faziam em suas viagens antigamente.
Na preparação da comida tropeira feita pela Mágoa de Boiadeiro, é possível ver que tudo é feito com amor e gosto. Antônio Carlos, que doa o seu melhor por aquilo que faz e para que a tradição não morra, deixa um recado para a nova geração, que tem essa missão de perpetuar na história. “Peço a cada um, de coração aberto, que pensem um pouquinho nas tradições, não só na queima do alho e no rodeio, mas também em tudo que foi passado; que de vez em quando deem uma lembrada, mostrando que aquilo ali existiu e ainda existe”.